O Programa criado em 2020 já ajudou mais de 500 mulheres e seus dependentes

Muitas empresas do setor de Venda Direta entendem a importância do combate à violência contra mulheres e organizam ações, desenvolvem projetos para auxiliar essas mulheres em situação de vulnerabilidade.

O Instituto Avon, criado em 2003, desenvolveu durante a pandemia de Covid-19, em 2020, o Programa Acolhe, que ofereceu suporte e apoio para atender meninas e mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

Para conhecer mais sobre o Programa Acolhe, a Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD) conversou com Renata Rodovalho, gerente de Causas do Instituto Avon. Leia entrevista na íntegra:

ABEVD – Você pode explicar um pouco mais sobre o Programa?

Renata Rodovalho – O Programa Acolhe é um pilar do Fundo de Investimento Social Privado pelo Fim das Violências contra Mulheres e Meninas, resultado de uma parceria entre o Instituto Avon e o Grupo Accor para acolher mulheres em situação de violência e contribuir para o fortalecimento de políticas públicas junto aos municípios. A iniciativa, que também conta com o apoio do Bem Querer Mulher, oferece abrigos temporários em hotéis da rede parceira para essas brasileiras e seus dependentes, além de acompanhamento jurídico, psicológico e social, segurança alimentar e capacitação profissional.

ABEVD – Como surgiu a ideia?

Renata Rodovalho – O Fundo de Investimento Social Privado pelo Fim das Violências contra Mulheres e Meninas surgiu em 2020, diante do cenário de isolamento social que estávamos vivenciando durante a pandemia de Covid-19, que tornou propício o confinamento de brasileiras em situação de violência com seus agressores. Por meio dessa iniciativa, desenvolvemos uma maneira de fortalecer políticas públicas de enfrentamento à violência de gênero junto a governos estaduais e municipais ao promover suporte a serviços públicos de abrigamento.

O Programa Acolhe nasceu, justamente, como um pilar deste projeto, visando ampliar pontos de acolhimento para mulheres que desejam deixar suas residências de maneira segura – incluindo seus dependentes, como filhos e parentes próximos – com a oferta de abrigo em hotéis da rede Accor, parceira da iniciativa, e de ferramentas que colaboram para que ciclos de violência sejam rompidos, como assistência psicológica, jurídica e social.

ABEVD – Qual a importância de projetos como esse para mulheres empreendedoras?

Renata Rodovalho – Apesar da violência contra a mulher ser considerada crime pela legislação brasileira, a população feminina, em geral, ainda enfrenta muitos desafios para que seus direitos sejam assegurados pelas entidades públicas, como profissionais pouco capacitados para atendê-las e casas de acolhimento temporário com estruturas precárias. Para se ter uma ideia, dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam que, no primeiro semestre de 2022, o Brasil bateu recorde em número de feminicídios – uma média de quatro vítimas por dia. Em comparação a 2019, o aumento foi de 10,8%.

Índices como esse demonstram a urgência de priorizar políticas públicas de prevenção e enfrentamento à violência de gênero e a necessidade de envolver setores de toda a sociedade nesta causa, pois, frequentemente, projetos como o Acolhe ampliam redes de apoio, inclusive em regiões que lidam com falta de recursos e a ausência de serviços qualificados.

ABEVD – Quais os resultados atingidos?

Renata Rodovalho – Cerca de 310 municípios, em 22 estados do país, estão habilitados a usar o Programa Acolhe, que já ofereceu 2.145 diárias para abrigamento temporário e impactou 1.914 servidores públicos que atuam em prol desta. Em 2022, tivemos três novos acordos assinados para a implementação da iniciativa, desta vez com o Consórcio de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê, estado da Bahia e Amazonas.

ABEVD – Quantas mulheres já foram ajudadas?

Renata Rodovalho – No total, 573 mulheres e seus dependentes – filhos e parentes próximos – foram acolhidos em hotéis da Rede Accor, desde 2020. Além disso, 274 receberam atendimento especializado, como assistência psicológica ou jurídica.

ABEVD – Por que desenvolver projetos que possam auxiliar mulheres vítimas de violência doméstica?

Renata Rodovalho – No Brasil, é comum empresas direcionarem recursos para causas sociais, como educação, conservação do meio ambiente e diversidade e inclusão. No entanto, quando se fala em equidade de gênero, a temática violência contra a mulher muitas vezes não é o foco do debate nas companhias ou se resumem a iniciativas pontuais – conduta que não acarreta mudanças efetivas e de longo prazo para a população feminina.

Muito mais do que isso, instituições do setor privado precisam compreender o seu potencial de transformação social, tanto pela sua capacidade de influenciar outros setores – como consumidores, instituições públicas ou não-governamentais – como também em termos de recursos, que podem ir além de campanhas de conscientização ocasionais e podem se tornar tanto ações internas, de proteção às suas colaboradoras, como externas, impulsionando a criação de políticas públicas mais eficientes e investindo na melhoria estrutural de serviços já oferecidos pelo governo.

ABEVD – Qual a importância do trabalho social para a empresa?

Renata Rodovalho – Como integrantes da sociedade, empresas devem ter um compromisso com o bem-estar social, considerando, especialmente, a situação do Brasil, um país marcado por desigualdades socioeconômicas que contribuem para a manutenção de opressões e violações de direitos fundamentais, como o acesso à uma vida digna, com segurança e saúde.  Por meio da mobilização de recursos e incentivando o engajamento coletivo, o setor privado pode promover mudanças sistêmicas e soluções para problemas que são estruturais e responsabilidade de todos, como a violência contra mulheres.

O próprio Programa Acolhe é um exemplo de como a parceria público-privada pode render resultados impactantes, como a melhoria no atendimento à população feminina em situação de violência ao aprimorar e ampliar redes de acolhimento e capacitar profissionais que atuam na área.

ABEVD – Como avalia o papel da Venda Direta para a mulher em situação de vulnerabilidade?

Renata Rodovalho – Primeiramente, as vendas por relações proporcionam uma oportunidade de renda acessível para mulheres em situação de vulnerabilidade, possibilitando que rompam ciclos de violência com mais facilidade graças à independência financeira que a atividade pode proporcionar.

Além disso, empresas deste setor também possuem um enorme potencial para influenciar mudanças na realidade da população feminina. Na Avon, por exemplo, as Representantes de Beleza podem atuar como embaixadoras das causas apoiadas pelo seu braço social, o Instituto Avon, disseminando informação úteis em suas comunidades e redes de relações, chegando a lugares onde, por vezes, nenhuma outra organização é capaz de chegar.

ABEVD – Como a ABEVD pode auxiliar o desenvolvimento de programas como esse?

Renata Rodovalho – A organização pode atuar na conscientização externa ou entre empresas associadas, bem como estimular a implementação de medidas práticas por parte das companhias do setor, como políticas de suporte a colaboradoras em situação de violência, como canais de denúncia e assistência; mobilização de recursos para impactar e capacitar lideranças, funcionários e comunidades em que estão inseridas; e investimentos em projetos que visam solucionar esta questão.

Fonte: Assessoria de imprensa da ABEVD